1921-1930

11 de setembro de 1927 – Raid Marítimo São Miguel/Terceira 

Em 11 de Setembro de 1927 assiste‑se a uma nova época de euforia quanto à implementação dos desportos náuticos, com a realização do Raid Marítimo S. Miguel – Terceira, efetuado pelos desportistas micaelenses António de Medeiros Frazão Júnior e António Franco Taveira, «dois arrojados navegadores que, nessa largada heroica, mas pensada e refletidamente preparada, ousaram transpor numa frágil embarcação, a remos, as 90 milhas de mar que separavam as duas ilhas irmãs: S. Miguel e Terceira».

Segundo o Jornal “Correio dos Açores”, «o Clube União Micaelense pela mão de dois bravos navegantes seus consócios, havia conquistado mais uma coroa de louros para o salutar esforço que vinha desenvolvendo em prol do revigoramento da Mocidade».

O barco a remos que efetuou essa heroica travessia chamava‑se “Maria Lomelino”.

António Frazão e Franco Taveira regressaram a Ponta Delgada no dia seguinte a bordo do rebocador “Furnas”, mandado propositadamente para Angra do Heroísmo para aquele fim, levando a bordo os delegados do Clube Naval José Matias Tavares e José da Costa Maiato e ainda Aurélio César, pela Redação do “Correio dos Açores”.

No 1º número do Jornal “A Gazeta”, publicado em Ponta Delgada em 21 de Março de 1931, enumeram‑se as vantagens dos desportos náuticos, «os quais deviam merecer a melhor atenção dos micaelenses, prestando‑se a bacia da doca a interessantes iniciativas».

E, acrescentava «fazer pena que não soubéssemos aproveitar a situação de favor que o nosso magnífico porto artificial poderia proporcionar aos salutares desportos náuticos», o que denota que havia por parte do Clube Naval alguma desmobilização quanto às atividades que desenvolvia.

Em Junho seguinte, no mesmo Jornal, Alfredo da Câmara é entrevistado, dando conta da acção do Clube Naval, bem como das iniciativas que ia tomar para animar os desportos náuticos na época do mar, que prometia ser brilhante.

Segundo a “Gazeta”, Alfredo da Câmara «não precisava ser apresentado. Era o Homem que todos conheciam, entusiasta por tudo o que fosse de interesse moral ou material para a Terra que lhe dera berço, pelo que S. Miguel e o desporto muito lhe deviam à sua ação orientadora e sempre jovem».

Como ponto de referência Alfredo da Câmara, diz, no decorrer da entrevista, que «o Clube Naval iria tomar à sua conta, como de costume, a movimentação da época do mar que se aproximava; as festas náuticas seriam inauguradas em Junho, por ocasião da estada em Ponta Delgada do Navio‑Escola “Sagres”, com corridas de embarcações à vela, a remos, lutas de tração e natação, para além de outras iniciativas».

 

«O primeiro lugar onde se costumavam guardar alguns barquinhos, que nem eram Yolles, era numa rampa – havia antigamente um mercado de peixe por detrás do Cais da Sardinha – havia numa descida um armazém muito grande, todo envidraçado, que era dos Bombeiros, e como o Sr. Alfredo da Câmara era Comandante dos Bombeiros, os primeiros barcos eram guardados lá.»

Aurélio César

Continuando afirmava que «depois, durante o verão, teriam lugar diversas provas de remos entre as conhecidas equipas dos Afilhados, Baleeiros, das Capelas, Bombeiros, Marinha e Pilotagem».

Por outro lado, «seriam organizados passeios marítimos à linda praia de S. Roque e ao Éden‑Parque da Lagoa, onde o elemento feminino estaria largamente representado».

Pretendia ainda «ver o Clube Naval conseguir que as meninas da nossa sociedade tomassem também parte nas regatas, como antigamente sucedia».

As palavras expressas por Alfredo da Câmara denotam uma grande ânsia de renovar e implementar as atividades náuticas do Clube Naval, chamando igualmente a participar outras forças e pessoas, sem esquecer o elemento feminino, aliás sempre presente nas primeiras manifestações náuticas promovidas desde a fundação do Clube.

Por outro lado, era expresso o desejo de congregar à volta do Clube toda uma atividade social indispensável ao convívio entre as várias forças participativas, aliás numa prática que foi sempre corrente ao longo dos anos, através das sucessivas direções, mesmo nos períodos de inverno.

«António de Medeiros Frazão Júnior e António Franco Taveira partiram num barco a remos rumo à ilha Terceira, no dia 9 de Setembro de 1927, e demoraram 47 horas para chegar à Praia da Vitória, onde foram presos – uma mera formalidade, pois não tinham permissão para empreender tal façanha. De notar a cuidada preparação física, conseguida dia a dia com exercícios de ginástica, e o de remo durante três longos anos.»

Armando Rocha