1952- Filiação na Federação Portuguesa de Vela
1953 – Cursos de Patrões e Marinheiros por Joaquim Bettencourt Ávila; Formação de três senhoras com carta de Patrão de Vela
Turma do Curso de Patrão de Vela de 1953 – Foto gentilmente fornecida pelo sócio Fernando Matos, um dos formandos que frequentou a formação.
1957 – Festival Náutico na piscina do parque Terra Nostra em despedida do General Craveiro Lopes
No começo da década de 50, o velejador Armando Reis Sousa Rocha, encarregado da secção de vela, apresentou à Direção um elucidativo relatório no qual dá conta da situação do Clube, assinalando como primeiro facto notório «a filiação do Clube na Federação Portuguesa de Vela, deliberação que visava não apenas colocar o Clube em igualdade de oportunidades como as demais agremiações, como ainda dava‑nos a faculdade de usufruirmos de benefícios que já várias vezes tinham sido negados, sob a alegação desta norma de oficialização das nossas atividades». Assim, «o Clube ficaria apto a entrar em competições de carácter nacional e receber os benefícios que as estâncias oficiais costumam conferir aos Clubes federados».
O movimento da vela era ao tempo o seguinte: total de saídas, 327; instrução, 63; movimento de sócios, 1702; movimento de sócias, 34; convidados, 78. Igualmente, referencia o facto de 4 novos “Vougas” entrarem brevemente ao serviço do Clube.
O saudoso piloto da barra, Joaquim Bettencourt Ávila, já aqui referido, teve também um papel preponderante na vida do Clube Naval “aparelhando” o “Sirius” a uma vela com menor área de velame, mais própria para o nosso mar. Deu mesmo lições de Vela, no que foi seguido pelo próprio comandante Ferreira de Oliveira entre 1942 / 45, então como ajudante de campo do comandante Penteado, do Comando Naval dos Açores.
Em 10 de Julho de 1945 é apreciada uma exposição sobre a actividade do Sr. Comandante Ferreira de Oliveira e dos muitos benefícios que o Clube tinha usufruído com a sua permanência frente à secção de vela, pelo que foi proposto para sócio de mérito e o descerramento do seu retrato na sala da Direcção, uma vez que se retirava para Lisboa, numa nova missão de serviço.
Alcindo Coutinho usou da palavra para dizer «que ao Clube felizmente não tinham faltado amigos devotados, pelo que indicava que a mesma categoria honorífica fosse também atribuída ao comandante Ruy Newton da Fonseca, comandante Costa Pessoa, comandante Jorge Noronha, eng.º Abel Coutinho e José da Silva Alves», moção que teve aprovação unânime.
«O Clube Naval naquela altura tinha um armazém, onde se guardavam as embarcações, tinha um pequeno gabinete, que era o gabinete da Direcção, nem sequer tinha balneário – havia os duches no Verão a funcionar junto à ilha. Chegamos a pintar o armazém do Clube Naval, evidentemente que com uma quota de 2$50 por mês não havia dinheiro para caiar o armazém, a Junta Autónoma, proprietária do armazém, deu-nos umas latas de cal e fizemos a pintura do Clube. (…) Quando a ilha existia, havia uma chata a remos em que um empregado do Clube levava as pessoas para tomar banho. Vinham, por dia, na força do Verão, 15 ou 20 pessoas para tomar banho ali.»
João San-Bento
Na década de 50/ 60 o Clube Naval foi praticamente apoiado nas atividades que desenvolveu por monitores localmente preparados, quase sempre jovens sócios interessados no prazer que os desportos náuticos lhes proporcionavam nos seus momentos de lazer, numa cidade e numa ilha onde tudo escasseava para completar e apoiar os tempos livres, sempre aproveitando as condições excecionais que a baía da doca oferecia.
Em 1952 é anotado como facto notório a filiação do Clube na Federação Portuguesa de Vela, deliberação que «não visava apenas colocar o Clube em igualdade de circunstâncias com as demais agremiações, como dar a facilidade de usufruir de benefícios que já várias vezes haviam sido negados, sob a alegação de faltares esta norma de oficialização».
Os chefes das respetivas secções, apresentavam anualmente às Assembleias Gerais, um Relatório dos trabalhos desenvolvidos, onde se indicavam os resultados obtidos, «bem como ao interesse ou ao desinteresse de muitos associados, ou à escassez do material náutico utilizável».
Na verdade, ao longo dos tempos, houve sempre um punhado de entusiastas, sempre disponíveis no aperfeiçoamento do desporto náutico, na dignificação do Clube, enfim dos atrativos dum dia passado no mar…
Volvidos 40 anos, o problema coloca‑se na mesma perspetiva, com a mesma tenacidade de sobrevivência quanto ao futuro! São disso prova os sucessivos relatórios apresentados anualmente pela Direção à Assembleia Geral.
Para nos centrarmos no tempo, em 1953, a atividade de Vela, sob a direção desse grande entusiasta do Clube que foi Joaquim Bettencourt Ávila, realizava cursos para patrões e marinheiros, cujas aulas práticas foram coadjuvadas pelos velejadores Pedro Jorge Machado, António Gusmão Lopes da Silva, Silvestre Rodrigues de Medeiros e Gualter Lopes.
Pela primeira vez na história do Clube, e certamente do desporto náutico, em S. Miguel, três senhoras submetem-se ao exame de Patrão de Vela: Antónia Moutinho Ferreira de Oliveira, Maria Margarida Moutinho Ferreira de Oliveira e Maria Margarida Gusmão Rodrigues de Melo, cabendo‑lhes, por isso, terem sido pioneiras duma nova época da vela. Mais tarde tirou carta de Patrão de Vela a grande apaixonada pelo mar, Leonor Cunha de Mendonça.
A Taça Comandante Ferreira de Oliveira começou a ser disputada entre os “Vougas” do Clube, bem como as Taças Clipper, da Pan‑American entre as classes de “Vougas”, Snipes e Monotipos de particulares. A secção de Vela continuou a dispor do palhabote “Sirius” para apoio aos barcos de competição existentes, havendo um total de 327 saídas e 63 instruções. Anunciava‑se ainda, como já foi referido, a próxima entrada ao serviço de 4 novos “Vougas” e sobre este empreendimento «o encargo do Clube apenas se traduzia numa grande dívida de gratidão para com o comandante Ferreira de Oliveira e o valioso auxílio do eng.º Abel Coutinho, traçando os planos dos novos barcos, cedendo pessoal da Junta Autónoma, bem como aos gerentes da Firma Bensaúde dispensando pessoal para as construções, aos Eng.os Francisco Rego Costa Matos e António Gomes de Menezes, oferecendo as madeiras e ao Dr. Luís Bernardo Leite de Ataíde que, por intermédio do comandante Costa Gomes, ofereceu a madeira para os mastros».
Para além da justiça devida a tão grandes cooperadores da vida do Clube, citam‑se os seus nomes, como exemplo para os vindouros e até para comprovar que ao longo de tantos anos difíceis, houve sempre pessoas amigas que quiseram ajudar a vida do Clube.
Apesar do Clube dispor de “Yoles do Mar”, o remo não conseguira atingir o grande desenvolvimento de outros tempos, não obstante o espírito de disponibilidade sempre verificada por parte dos Srs. Silvestre Rodrigues de Medeiros e Liberto Pacheco Mendonça.
Ainda a partir da década de 50 o Clube Naval de Ponta Delgada continuou a servir de escola e de ponto de encontro a várias gerações de atletas e até mesmo a alguns e dedicados empregados, os quais andam ainda na memória de todos os que recordam esses tempos.
Nos começos de 1950 a situação do Clube Naval era bastante degradante, motivada sobretudo pelos catastróficos resultados do ciclone de 4 de Outubro de 1946. Ao mesmo tempo «eram extintos nesta ilha o Comando da Defesa Marítima e o Centro de Aviação Naval, factos que — segundo a Direção presidida por Alcindo Coutinho — tão valiosos auxílios haviam dispensado a agremiação e, por sua vez os sócios, em grande número, anulavam as suas inscrições, sob a alegação de que o Clube nenhumas regalias lhes oferecia». Ao mesmo tempo, «a vida do Clube havia‑se ressentido da falta de ligação permanente com os sócios, pois a estes apenas se poderia oferecer as actividades náuticas, de uma maneira geral. No inverno, dava‑se um interregno nas ligações sociais pela falta de um salão de festas que permitisse serões culturais, recreativos ou bailes».
Em 1956, o Clube Naval, sob a presidência do Dr. Ernesto Hintze Ribeiro, abre‑se, de facto, a um esquema de expressão social que há muito faltava, o qual fica marcado por convívios e serões de confraternização. Ao mesmo tempo, foi solicitada a colaboração de outros clubes desportivos que desta forma quebram a marca de profundo isolamento em que se encontrava o nosso Clube.
As obras na sede social continuam a merecer a melhor atenção dos corpos directivos que recebem para o efeito várias ofertas, nomeadamente em madeira da parte do sócio, Pedro Jácome Correia Hintze Ribeiro.
De acordo com um Relatório da Direcção, os principais pontos de actividade circunscreveram‑se aos seguintes aspectos: “SIRIUS” – não tinha sido possível conseguir ver realizado o restauro completo desta histórica embarcação, não só por falta de verba, anteriormente votada por um grupo de antigos velejadores, como também pela dificuldade na mão de obra especializada, pelo que formulavam um sincero desejo para que ficassem concluídas as obras de conservação em gerência posterior; REMO – para esta modalidade, sempre em actividade no nosso Clube Naval, tinha aumentado o número dos seus adeptos. Pelos benefícios de ordem física que a sua prática moderada e dirigida produzia no espírito dos atletas, não podíamos deixar inactiva esta modalidade de desporto náutico. Para o efeito, foram nomeados os senhores Liberto Pacheco Mendonça e Silvestre Rodrigues Medeiros para a preparação e orientação dos sócios que desejassem praticar remo. Nesta actividade, mais do que qualquer outra, houve o cuidado de submeter os praticantes a uma inspeção médica eficiente a que o Sr. Dr. Hermano de Medeiros fez o favor de proceder, serviços que a Direção, muito reconhecida, agradeceu; VELA – desde o inicio da época náutica, tratou‑se de dar ambiente propício á prática da interessante modalidade da vela, incrementando e desenvolvendo‑a. Assim, abriu‑se um curso de vela para o qual se contou com a colaboração assídua e desinteressada dos quatro instrutores, senhores, Hans Schanderl, Cornelius Schanderl, Roberto Cordeiro Cabral e Eduardo Manuel Soares dos Reis, a quem consignamos um voto de louvor e agradecimento por tão relevantes serviços prestados. Deste curso, prestaram provas de marinheiros seis candidatos, os quais foram todos aprovados, dada a sua boa preparação, conforme verificaram os examinadores legalmente constituídos. NATAÇÃO – pereceu‑nos também especial atenção a preparação com bases técnicas de jovens praticantes da natação e, por esta razão, foi encarregado do curso de natação o Dr. Dinis António de Bulhão Pato, que não se poupou a esforços nem olhou a sacrifícios, pelo que ê bem merecedor do nosso muito reconhecimento. A atenção e cuidado que dispensou aos seus instruendos foi magnífica.
«Vim para o Clube aos 8 anos com o meu tio, o mestre Salgadinho, e fiz-me sócio em 1955. Apanhei a ilha e a evolução toda, o batelão em ferro no meio da doca quando a ilha desapareceu, o Cais da Sardinha…»
António Viana
Na natação disputaram‑se várias provas de distância, cujos resultados foram os seguintes: milha marítima, vencedor Cornelius Schanderl, Taça “Ourivesaria Lemos”; 100 metros livres, Fernando Costa Matos, Medalha dourada; 50 metros bruços, Fernando Manuel Costa Matos, Medalha; 50 metros costas, Cornelius Schanderl, Medalha; 100 metros barbatanas, Vasco Jorge Soares, Medalha; 50 metros livres, Roberto Rocha Amaral, Medalha; 50 metros livres, Menina Maria de Deus Cascais, Taça; 300 metros corrida caiaques, António Albino, Medalha; Water‑Polo, venceu a equipa do Clube Naval, ganhando a taça “Companhia de Seguros Império”. Não houve vencedor para a luta de caiaques. Finalmente, e para encerramento das atividades do Clube Naval da época, foi organizada uma sessão solene, seguida de um serão dançante, para a entrega dos trofeus aos vencedores. Campeonato Açoriano de Vela: com o intuito de haver maior intercâmbio entre os três distritos açorianos, pretendeu a direção organizar um Campeonato Açoriano de Vela, na classe “Vouga”. Para o efeito oficiou‑se aos três clubes navais respetivos a indagar se estavam dispostos a colaborar nesta iniciativa. De todos, porém, nenhum estava em condições de enviar representantes a Ponta Delgada para disputarem o campeonato de vela. Por isto, a direção, com muito pesar, desistiu, desta sua pretensão, considerada, aliás, de interesse geral. Festivais: na presente época náutica, e sob a orientação e organização da direção, foram levados a efeito três festivais. No primeiro, realizado a 1 de Junho, disputou‑se apenas uma regata de vela da classe “Vouga” entre CNOCA, Mocidade Portuguesa e Clube Naval, para a atribuição de uma taça, a qual foi ganha pelos representantes do CNOCA. A 29 do mesmo mês, voltou‑se a fazer novas regatas, contando‑se, já então, além da vela, o remo. Houve provas de vela nas classes “Vouga” e “Moth”, as primeiras entre os três organismos acima referidos, e este último apenas entre elementos do Clube Naval. Em “Vougas” voltou a triunfar o CNOCA. As provas de remo foram disputadas da seguinte forma: no tipo baleeira, entre o Clube Naval e representantes da Guarda Fiscal, vencendo o primeiro; em caiaques, triunfou a Guarda Fiscal entre apenas representantes seus; em barcos de pesca ganhou a equipa representativa do Marítimo Sport Clube, numa competição entre pescadores da Lagoa, Mosteiros e Capelas. A todos os vencedores foi atribuída uma taça.
Finalmente, a 14 de Setembro, realizou‑se o maior de todos os festivais, compreendendo provas de vela, remo e natação. Foi uma tarde desportiva que muito valorizou os desportos náuticos pelo êxito alcançado. Acorreu à Avenida Gonçalo Velho e à esplanada da aviação naval, onde foram disputadas as provas de natação, um grande número de espectadores. Em primeiro lugar correu‑se as provas de vela, apenas com representantes do Clube Naval e nos três tipos: “Vouga”, “Moth” e “Monotipo”. Na primeira classe, venceu Roberto Cordeiro Cabral, em “Moth”, Raimundo Espinosa, ficando desclassificados os dois únicos concorrentes em “Monotipo”.
«Comecei a frequentar o Clube Naval com quatro anos – portanto, em 59 ou 60 – e, na altura, era bastante interessante na medida em que tínhamos uma área para nadar à vontade, havia uma camaradagem muito grande entre as pessoas, criavam-se grupos que conviviam não só no Clube durante o dia, mas também tínhamos outras actividades, juntávamo-nos depois do jantar para passear na Marginal, fazíamos pequenas festas, bailes…»
Paulo Menezes
Prosseguiram as diligências para se conseguir uma sede para este Clube, justa e digna aspiração de todos. Junto da Junta Autónoma dos Portos de Ponta Delgada, voltou-se a insistir na cedência do antigo Cais da Sardinha para aí ficarem instalados a Sede e armazéns do Clube, mas contrariedades difíceis de remover impediram de se ver realizada esta nossa pretensão.
Em 1957 o Clube tomou parte numa receção de despedida ao Presidente da República, General Craveiro Lopes, e organizou um festival náutico na Piscina do Parque “Terra Nostra”, a pedido da respetiva “Sociedade”, tendo sido o Dr. Bulhão Pato encarregado de o organizar em saltos, natação (bruços, braços e costas) e natação complementar (barbatanas, caça ao pato e polo aquático).
Os vencedores foram os seguintes desportistas: Salto (estilos), Raimundo César Espinosa; Estilo Livre (50 metros), Cornelius Schanderl; Bruços (50 metros), Fernando Manuel Costa Matos; Costas, Roberto Rocha Amaral; Estilo Livre (com barbatanas), Vasco Jorge Soares; Pólo Aquático, Hans Schanderl, Vasco Jorge Soares, Luís Francisco Rebelo, Cristovão Baptista Melo Falcão, Fernando Manuel Costa Matos, José Joaquim Pavão Pereira e Carlos Miguel Rodrigues.
«Por ocasião de tremores de terra na Ribeira Quente o Clube Naval fez uma subscrição, por minha proposta numa reunião de direcção (e na senda da generosidade mostrada pelo Sr. Alfredo da Câmara), para angariar dinheiro de forma a se reconstruírem as casas destruídas pelo sismo. Arranjou-se o dinheiro e as casas foram reconstruídas!»
Armando Rocha
Para a realização de festas no Clube, nomeadamente bailes, para ajudar a debelar a sua tremenda crise financeira, foi organizada uma comissão da qual faziam parte os sócios Roberto Cabral, Cornelius Schanderl, Gestrud Maria Joahanna Kopp e Maria Madalena de Medeiros Machado, aos quais a direção do Clube louvou pela forma como organizaram os serões sociais.
Em 1958, já na presidência do Dr. Rodolfo Pires de Gouveia, são organizados passeios para sócios e familiares na lancha “Bom Jesus”, bem como é reaberto o funcionamento do Posto Clinico, para exames médicos gratuitos aos sócios.
Em 1959 realiza‑se uma prova de vela amigável à Baixa da Areia, na Caloura, na qual participaram também embarcações a motor, bem como ao ilhéu de Vila Franca do Campo.
«O Sr. João da Rocha Nunes, conhecido por mestre João Fanoco, era natural de Angra e chegou a Ponta Delgada a bordo da lancha Bellatrix para apoio à aviação da Sata e a toda a aviação que cruzava o Atlântico; depois passou para a Capitania do Porto e, depois de reformado, dava aulas de navegação, de regras de navegação e da arte de nós no Clube Naval, nos anos 50 a 70.»
Armando Rocha