1931-1940

1937 – festival náutico em honra do Eng.º Abel Coutinho

27 de agosto de 1939 – Inauguração das instalações da sede na Av. Kopke e compra do Sirius e de dois Yolles 

11 de dezembro de 1939 – aprovação do novo Estatuto

julho de 1940 – festa náutica do 39º aniversário 

26 de março de 1941 – conclusão de obras na sede da av. Kopke

Outro elemento novo da dinamização dos desportos náuticos foi o aproveitamento da praia de S. Roque, nomeadamente em termos filantrópicos.

Assim, em 3 de Julho de 1932 dá‑se conta da inauguração dessa praia e da construção duma barraca para uso das meninas do Asilo da Infância Desvalida, iniciativa que havia sido custeada por um anónimo.

A inauguração dessa barraca e da época balnear teve foros de festa «abrangendo os devotos do marismo, de modo a que se pudesse considerar uma autêntica inauguração da Praia».

E o Jornal “A Gazeta” dá essa imagem curiosa de como se revestiu esse acontecimento:

«A quantidade de povo que o comboio de Alfredo da Câmara despejou sobre a areia escaldante do magnifico recinto de banhos, a fila interminável de veículos que incessantemente atirava para a praia, a população citadina, deixou‑nos bem a certeza de que mais nada é preciso fazer para que possa afirmar‑se desde domingo que se inaugurou a Praia de S. Roque.

Ora a festa, aonde o Sol, a música, e a alegria da multidão se confundiu no mesmo ambiente de saúde, precisa de continuidade. Inaugurar uma praia só para deixá‑la inaugurada representa muito esforço; mas comparativamente ao resto que há para efectuar em benefício da comunidade e, porque não afirmá‑lo, em benefício da Terra, pouco representa.

«Fui para o Clube Naval por causa do remo. Estava aí (…) um monitor de remo, uma pessoa extremamente delicada e dedicada, fez parte de equipas de lá de fora (…) fiz-me sócio em 1940, e todos os dias, quer de Verão, quer de Inverno, às 7 horas da manhã, estava o grupo lá: íamos à lição com o Sr. Breyner (…) Havia equipas que remavam consideravelmente bem: lembro-me do Hans Rieff, do Augusto Cavaco, do Francisco Lomelino Teves e, como timoneiro, o Pedro Bicudo.»

Aurélio César

Não é todavia a Alfredo da Câmara, a nós ou aos Clubes de desporto que pertence o direito de completar a obra que teve o seu início há quatro dias apenas. Não, esse direito, esse trabalho pertence a todos, porque todos nós somos micaelenses e S. Roque pertence‑nos, é de S. Miguel.

Não deixemos pois que tombe no esquecimento vulgar a linda festa de domingo e façamos por que ela se repita todos os dias, mostrando assim como somos gratos à Natureza e o quanto achamos depreciativo que nos falem cara‑a‑cara de nossa provada inatividade».

Em anos seguintes e sempre para animara “Época de Mar”, Alfredo da Câmara, até à sua morte prematura, continuou a organizar festivais náuticos, com inesquecíveis presenças de sócios e simpatizantes do Clube, no que recebia sempre a prestimosa colaboração da Alfândega e da Junta Autónoma do Porto de Ponta Delgada, com a cedência de embarcações.

Em 1937 realiza‑se uma festa náutica em honra do Eng.º Abel Coutinho com números de water‑polo, torpedos, natação e corridas à vela e entre as gasolineiras da Alfândega.

A propósito deste festival “A Gazeta” aponta como dignas de registo «as corridas à vela, de que sairá vencedor o barco de recreio “Hipano” do Sr. Humberto Pereira; a 4 remos e 8 homens (desforra) entre Santaclarenses e Calhetenses; a 6 remos entre duas equipas da Corporação dos Bombeiros e duas gasolinas da Alfândega».

Registava‑se ainda «o interesse demonstrado pelo Sr. Carvalho Valério em todas essas atividades, num bairrismo que não conhecia dificuldades».

A festa naval de O Dia do Empregado do Comércio, promovida por J. Silva Jr. como secretário da Direção do Sindicato dos Empregados do Comércio, foi outro acontecimento digno de relevo e para o qual muito concorreu a colaboração dispensada pelo Clube Naval.

Após a morte de Alfredo ca Câmara, a Assembleia Geral do Clube Naval reuniu em 20 de Abril de 1939, na antiga sala dos Bombeiros Voluntários de Ponta Delgada, então na Rua Manuel da Ponte.

Presidiu o advogado Dr. José de Oliveira San‑Bento, secretariado por Armando Martins Breyner e Ricardo Mont’Alverne de Sequeira.

Nessa sessão procedeu‑se à eleição da nova Direção, prestando‑se «justo preito da maior admiração pela memória saudosa de Alfredo da Câmara, naquele momento em que pela primeira vez se reuniu após a morte do antigo presidente do Clube Naval (e depois seu Comodoro)».

«O Clube Naval tinha muitas ajudas de pessoas amigas, como o Engº Abel Coutinho, e com um esforço medonho (pois as quotas do Clube na altura custavam 5$00) mandaram-se vir os Yolles. Os Yolles foram construídos na Associação Naval de Lisboa e custaram naquela tempo cerca de 12 contos. (…) Mas eram muito bem construídos e optou-se pelos Yolles, não de ânimo leve, mas porque se adaptavam melhor às nossas condições da bacia da doca e à ondulação média. Na altura, o barco a remo para competição era o out-rigger (o Yolle tem as forquetas na borda do barco, como qualquer barco a remos, só que é uma coisa especializada), que tem as forquetas fora da borda com uma aranha de ferro que o prolonga e é um barco muito leve, que se volta com a maior facilidade. Quando os Yolles vieram fizeram uma exposição no Teatro Micaelense e toda a gente gostou imenso, eram barcos lindíssimos.»

Armando Rocha

O presidente da Assembleia Geral referiu‑se «à personalidade de Alfredo da Câmara, encarando‑a sob diversos aspetos, nomeadamente quanto ao seu entusiasmo pelos desportos náuticos e por todos os assuntos que se prendiam com o mar e com a Marinha».

Também «exaltou as qualidades do seu coração, sempre pronto a acudir à miséria e à dor com o seu conforto moral e com o apoio material».

Terminou por «propor um voto de profundo sentimento em nome de todo o Clube Naval pelo saudoso Comodoro, cuja memória não podia deixar de ser envolvida com a grata saudade daquela agremiação desportiva, lembrando que esse voto estava, com certeza, também no ânimo de todos envia‑lo por cópia da ata à sua dedicada viúva, D. Adelina Ferreira Câmara, frequentemente cooperadora oculta, mas igualmente prestimosa, sem sair do seu lar».

Efetivamente ficaram memoráveis as manifestações de solidariedade empreendidas por Alfredo da Câmara, em favor dos mais desfavorecidos, nomeadamente pescadores.

Essa marca de solidariedade social tem sido, aliás, acompanhada pelo Clube Naval em outras circunstâncias, nomeadamente em 1952 aquando dos abalos sísmicos que assolaram a freguesia da Ribeira Quente.

Assim, por iniciativa do vogal da Direção, Sr. Armando Rocha, foi aberta uma subscrição no Jornal “Diário dos Açores”, a qual rendeu cerca de meia centena de contos, os quais foram empregues na reparação de doze casas danificadas, pertencentes a marítimos.

Nesta 2.ª fase de vida os novos corpos diretivos eleitos nessa reunião de 20 de Abril de 1939 ficaram assim constituídos e pode mesmo considerar‑se a direção de reconstrução, pois, com a morte de Alfredo da Câmara o Clube Naval entrara em progressivo declínio: Presidente, Comandante João Barahona e Costa; Vice Presidente, Dr. Álvaro Pais de Ataíde; 1º  Secretário, Gualter Serpa Afonso; 2º  Secretário, Manuel Raposo de Medeiros; Tesoureiro, Armando Martins Breyner; Diretores, Tenente Carlos Pais de Ataíde, José Marques Moreira, Eng.º João Frederico de Sousa, Eng.º Ag. Fernando Marques Moreira; no Conselho Fiscal, foi Presidente oDr. Hermano da Silveira Medeiros e Câmara, Vice Presidente Ricardo Mont’Alverne de Sequeira, Secretário José Alves de Sequeira; Depositário do espólio do Clube recebido da família de Alfredo da Câmara, o Dr. José de Oliveira San‑Bento que saudou a nova Direção para a qual teve palavras de apreço.

«Fez notar que logo à cabeça da lista figurava o nome do Comandante Barahona e Costa, Capitão do Porto, o que era garantia segura de que o Clube seguiria os melhores destinos».

O novo Presidente da Direção eleito «agradeceu as referências que lhe haviam sido feitas, manifestando as firmes intenções em que estava em dar incremento à vida do Clube e associou‑se também por si e pela nova Direção às homenagens – que classificou de justíssimas –  prestadas a Alfredo da Câmara».

Em 1 de Maio reuniu, novamente a Assembleia Geral que encarregou a Direção de elaborar os novos estatutos «visto ninguém como ela estar integrada nas necessidades com que luta o Clube».

A Direção propôs igualmente a alteração à quota e joia, «pois verificava‑se que o Clube tinha em depósito 10 000$00 e um rendimento mensal de 130$00 e não ter sede, armazém para recolha de material náutico e embarcações em condições de servir condignamente as finalidades a que se destinava na preparação física  das novas gerações».

O Comandante Barahona e Costa inventariava assim o material disponível: uma canoa, inutilizada, que deveria ser destruída por não valer uma reparação; um escaler, de doze remos, que para poder ser utilizado como escola de vela, teria que ser muito remodelado.

Entendia igualmente que o Clube Naval «para que merecesse tal designação deveria pelo menos possuir escolas de natação, remo e vela».

Por contactos estabelecidos com a Associação Naval de Lisboa «tinha em seu poder uma proposta relativa ao fornecimento ao Clube de duas embarcações para escola de remo em barco móvel,  como  aconselhava  a  prática  moderna  do  remo, no valor de 15.300$00».

Mais informou que «a conservação e reparação do material náutico não se podia fazer com o rendimento mensal do Clube, além de que era necessário contratar um encarregado de armazém».

A proposta de quota foi de 5$00, a partir daquele mês e a joia de 30$00.

Como sempre nestas ocasiões houve larga discussão sobre esta matéria…

Assim, sobre o novo pagamento de quotas «foi estudada a possibilidade de se encontrar uma solução satisfatória de modo a proteger os sócios de menores condições económicas; ao mesmo tempo que se enviaria a diversas pessoas uma Circular convidando‑os para sócios e expondo o programa que pretendiam realizar, para que o Clube fosse digno de usar esse nome».

A partir desta Assembleia iniciou‑se então um grande e importante período de reconversão do Clube, salientando‑se a disponibilidade verificada por parte de Armando Martins Breyner, oficial superior da Alfândega, «que procurou encaminhar o programa anunciado pela 1ª Assembleia Geral».

Na Assembleia Geral de 29 de Maio de 1939 é apresentado o projeto do novo galhardete e bandeira do Clube, que passariam a ser utilizados como insígnias:

Bandeira ‑ será retangular, branca, cruzada por duas listas vermelhas, uma no sentido longitudinal e outra transversal, perpendicular à primeira, tendo ambas, paralelamente, de um ou de outro lado, um friso da mesma cor; no cruzamento das listas terá o escudo das quinas e no retângulo superior esquerdo uma âncora na direção da diagonal, com o anete para o canto superior da tralha.

Galhardete ‑ o mesmo desenho da bandeira, mas sem a âncora.

Por motivo dessa aprovação, em minuta, os Estatutos em vigor sofreram essa alteração, aprovada por unanimidade, uma vez que os novos ainda não haviam sido homologados.

Na Assembleia Geral de 11 de Dezembro de 1939, é posto à discussão o projeto do novo Estatuto, o qual foi aprovado por unanimidade.

O referido Estatuto, que vigorou praticamente até 1983, foi homologado por Alvará de 3 de Janeiro de 1940, pelo Governador Civil de Ponta Delgada, Dr. Alberto de Campos Vieira Neves.

Trata‑se dum documento elaborado com muita mestria, visando «desenvolver o gosto pelos desportos náuticos, úteis em muitas eventualidades da existência, cultivando e aperfeiçoando as qualidades morais e físicas; mantendo escolas, promovendo conferências, organizando festas de carácter desportivo, recreativo e cultural; facilitando a aquisição e manutenção de embarcações; colaborando em organizações de benemerência humanitárias e patrióticas».

Era «absolutamente alheio à política e à religião».

Estes Estatutos alteram os que haviam sido aprovados por alvará de 3 de Junho de 1902.

«Como remador que fui do Clube Naval, seguíamos um método. Havia um respeito muito grande pelas pessoas, hoje ninguém obedece a ninguém, ninguém quer saber de ninguém. Cumpriam-se os horários e o Sr. Breyner, o primeiro treinador de remo e primeiro verificador da Alfândega, estava às 7h30 da manhã no Clube Naval (…) a varrer o chão de terra do armazém para as tripulações entrarem. Quem é hoje que faria isso sem proveito nenhum, só por amor à arte? A melhor tripulação que houve, a remar com métodos científicos, e que remou três vezes por semana durante mais de 1 ano, de Verão e de Inverno (à excepção de Janeiro a Março, porque o frio era tanto que os dedos que abraçavam o punho do remo ficavam presos) era constituída, por ordem de voga, sota-voga, sota-proa e proa, pelo Adolfo Sá Vieira, (…) o Gaudino Rodrigues,  eu e o João José Soares. Remávamos sistematicamente para competição, apesar de não termos com quem competir (…) e controlávamos os nossos tempos da milha pelos tempos da milha do Clube Naval de Lisboa, dos remadores de Caminha e dos Galitos de Aveiro; tínhamos os mesmos tempos ou muito aproximados.»

Armando Rocha

Os primeiros corpos gerentes que saíram dessa Assembleia, foram os seguintes:

Assembleia Geral – Presidente, Nicolau Maria Raposo Amaral; Vice Presidente, Dr. Jacinto Agostinho Pedro Nunes; 1º  Secretário, Manuel Raposo de Medeiros Júnior; 2º  Secretário, Hermínio Ribeiro da Silveira Carvalho.

Direção – Presidente, Comandante João Carlos Barahona e Costa; Vice Presidente, Dr. Álvaro António Barreiro Pais de Ataíde; 1º Secretário, Armando Martins Breyner; 2º Secretário, Ricardo Mont’Alverne de Sequei­ra; Tesoureiro, José da Silva Alves; 1º Vogal, Eng.º Fernando de Ataíde Marques Moreira; 2º Vogal, José de Ataíde Marques Moreira; 1º Vogal Suplente, Tenente Carlos Barreiro Pais de Ataíde; 2º Vogal Suplente, António de Medeiros Frazão Júnior.

Comissão Revisora de Contas – Presidente, Alfredo Sebastião Spínola; Secretário, José Alves Sequeira; Relator, Artur Frederico Silva; Suplente, Jaime Cristiano de Sousa; Suplente, José Carlos Alves.

A partir daí o Clube Naval passou a compreender 4 secções: Natação; Remo; Vela; Motor, orientadas por um chefe que, por delegação da direção, as dirigia.

«Antigamente os barcos grandes não acostavam à doca pela sua tonelagem e eram as lanchas do Manteiga que vinham trazer os turistas de bordo para o antigo Cais da Alfândega, junto às portas da cidade. (…) De vez em quando remávamos sem preocupação da milha, que era estabelecida do fundo da doca até ao enfiamento dos dois fornos de cal da antiga moagem, e fazíamos corridas com as lanchas do Manteiga, que tinha muito brio na velocidade dos seus barcos: deixávamos passar a lancha, fazíamos a preparação da saída, passávamos ao lado, remávamos mais um bocadinho e passávamos pela proa, o chamado “bigode”… e ele ficava danado!»

Armando Rocha

Anos mais tarde a essas secções acrescentaram‑se as de mergulho amador e escafandria.

Ainda na Assembleia Geral de Fevereiro de 1940 era referenciada «a figura prestigiosa do Comandante Barahona e Costa, bem como o ressurgimento do Clube».

Eram ainda realçadas «as obras e reparações efetuadas, bem como as enormes facilidades e auxílios concedidos por vários amigos do Clube».

As obras em referência eram precisamente as realizadas na nova sede, na Avenida Kopke, que foram ocupadas até à transferência para as novas instalações na Avenida Infante D. Henrique, em local cedido pela Junta Autónoma do Porto de Ponta Delgada, por influência do Eng.º Abel Férin Coutinho, «onde trabalharam sócios e amigos, sem qualquer remuneração».

A inauguração efetuou-se no dia 27 de Agosto de 1939, durante uma cerimónia que se revestiu de grande aparato e teve larga participação do público, constituindo um acontecimento marcante na vida desportiva da nossa cidade.

Segundo o Jornal “Correio dos Açores”, «às 15 horas prefixas procedera‑se ao hastear da Bandeira Nacional e do galhardete do Clube, após o que o Eng.º Abel Coutinho, como único sócio fundador sobrevivente, cortou as fitas simbólicas, que vedavam a entrada do Posto Náutico.

Seguiu‑se uma sessão solene numa das dependências reservadas para o arrumo das embarcações do Clube, presidida pelo mesmo sócio fundador, que tinha a secretariá‑lo o comandante do navio hidrográfico “Carvalho Araújo”, Sr. Capitão‑Tenente Gabriel Prior e o representante do Clube União Sportiva, Sr. Manuel Bernardo Cabral.

Em nome da Direção do Clube, falou o Comandante Barahona e Costa, Capitão do Porto de Ponta Delgada, que começou por saudar o Eng.º Abel Coutinho, como único sócio fundador sobrevivente e grande animador da construção da nova sede.

Disse depois que aquela festa representava para o Clube qualquer coisa de importante não por decorrer com pompa, porque para tal não tinham condições, mas sim por representar um passo em frente na vida associativa.

Muito propositadamente resolvera a Direção dar a este ato a maior simplicidade, já porque, embora este Clube tivesse 38 anos de existência, se encontrava no início de uma nova orientação, o que dava lugar a não lhe permitir ter de momento elementos preparados para uma festa desportiva de envergadura, já por que o seguir outra orientação acarretaria despesas incomportáveis para as posses do Clube, pois todos os recursos de que se disponha poucos eram para se lhe dar o desenvolvimento que se tornava necessário».

Referiu‑se ainda à cerimónia do batismo das três unidades para o Clube Naval, a que se ia proceder, manifestando o desejo das maiores prosperidades a essas embarcações, dado o fim a que se destinavam: criar homens que amem o mar, que ao mar vão buscar espírito de iniciativa, força e saúde.

As novas embarcações eram constituídas por 1 “Sirius” e 2 “Yoles” e representavam parte do trabalho já desenvolvido pela Direção nos quatro meses de atividade e que faziam parte do plano de trabalhos traçado aquando da sua posse.

Segundo a reportagem do Jornal “Correio dos Açores” «O Posto Náutico agora inaugurado ficava sem dúvida alguma sendo a melhor instalação desportiva da nossa terra.

Nas dependências que dão para a Avenida Kopke ficaram instalados, dum lado o gabinete médico com o indispensável para os primeiros socorros de urgência e que estava sob a superintendência do ilustre clínico, Dr. Álvaro Ataíde.

Na outra ala ficaram reservadas as dependências para as senhoras, com gabinete de toilette, duche e vestiários, tudo simples, mas com uma nota interessante de bom gosto e de higiene».

No outro lado do edifício e dando para o armazém central, estavam as instalações para homens e rapazes em gabinetes absolutamente separados, em tudo semelhantes às instalações para as senhoras.

Por detrás destas dependências ficava, como foi acima dito, o armazém de arrumo das embarcações, que a pouco e pouco iria sofrendo mais amplas modificações.

O material náutico do Clube Naval ficava assim constituído: um escaler para instrução de vela denominado Sirius de que fora madrinha a menina Maria Amélia T. da Câmara, filha do comandante Liberal da Câmara e neta do saudoso micaelense Alfredo da Câmara, a alma generosa que durante muitos anos presidiu aos destinos do velho Clube; uma guinga para instrução de remo, adaptada para tal fim; dois Yoles de mar do último modelo e de recente aquisição do Clube, com os nomes de “Altair” e “Veja”, de que foram madrinhas as meninas Maria Luísa Barahona e Manuela Martins Breyner, gentis filhas, respetivamente, dos Srs. Comandante Barahona e Martins Breyner, inspetor da Alfândega desta cidade; uma jangada para prática e ensino da natação e saltos, instalada na bacia do nosso porto artificial.

«O Sr. Alcino de Moraes era um grande entusiasta das coisas do mar. Tínhamos uma tertúlia literária e uma tertúlia náutica no Café Jade e esse senhor falava de desportos náuticos, da sua estadia no Ultramar, de remo. (…) Construiu um barco de out-board, o Koki, recuperou um motor oferecido pelo Sr. Leo Weitzembauer, e este foi o princípio da Motonáutica no Clube Naval, em 1941, e nos Açores

Armando Rocha

O desporto náutico que nesta terra se limitava unicamente a uma festa anual, e que interessava um número restrito de pessoas, ficava de hoje para o futuro apto a iniciar a nossa mocidade num dos mais belos e salutares desportos.

As novas instalações foram concluídas em 26 de Março de 1941, e a transferência destes serviços, que funcionavam na Praça Velha, não só valorizou o Posto Náutico, como trouxe uma economia de 660$00 anuais.

Por intermédio do consócio senhor Albano Pereira da Ponte, na qualidade de único membro da extinta Liga Naval, foi ofereci do ao Clube todo o mobiliário que existia na Secretaria e bem as sim uma importância de 228$00.

Em 25 de Outubro de 1940 realiza‑se nova Assembleia, a primeira realizada nessa sede social e durante a mesma Armando Martins Breyner, por motivo de retirada para Lisboa, é nomeado sócio de mérito «pelos altos serviços prestados ao Clube, sendo elemento de valor, que permitiu o desenvolvimento efetivo de todas as secções desportivas». Armando Breyner foi o primeiro monitor de remo do Clube, a que se seguiram o Eng.º Frederico de Sousa e o Eng.º Augusto Cavaco.

Na altura referia‑se ao «ressurgimento do Clube, rivalizando com outros congéneres do Continente».

De acordo com uma informação recolhida da parte do antigo desportista Armando Sousa Rocha, «Armando Martins Breyner, foi o primeiro monitor de remo do Clube Naval de Ponta Delgada, e aparecia pontualmente às 7 horas da manhã, começando por varrer o armazém do Posto Náutico, que ainda não era cimentado, nunca faltando os remadores pelo respeito que lhe tinham. Os “Yoles” entravam na água às 7h 30m em ponto. Seguiram‑se‑lhe os seguintes instrutores que, de Lisboa, voltavam à sua ilha, por motivo de férias: o Eng.º João Frederico de Sousa e o Eng.º Augusto Correia de Sousa Cavaco. E foram estes 3 experimentados remadores que prepararam a melhor tripulação de remo que jamais o Clube Naval teve, apta a entrar em competições nacionais (pois os tempos da “milha” eram idênticos ou quase aos das tripulações do Continente que disputavam campeonatos), nunca se tendo efetuado a sua desejada deslocação por falta de subsídios. Essa tripulação era composta por Adolfo Sá Vieira (voga), Gaudino Ferreira Rodrigues (sota‑voga), Armando Reis Sousa Rocha (sota‑proa) e João José Soares de Medeiros (proa), tendo como excelente timoneiro Victor Duarte de Medeiros. Remaram sempre juntos de 1940 a 1942 e treinavam de verão e de inverno (com exceção dos meses de Fevereiro, Março e parte de Abril) a partir das 7h 30m, três vezes por semana, mas de modo que às 9h dois deles estivessem nos seus empregos. A “milha” era contada desde o fundo do porto artificial até ao enfiamento dos dois “fornos” em frente à antiga Moagem Micaelense».

Em Julho de 1940 realiza‑se uma festa náutica em comemoração do 39º aniversário do Clube, com grande assistência que presenciara com muito entusiasmo e a maior curiosidade o decorrer das provas.

O festival foi iniciado com a prova de “Yoles de Mar” , no percurso de 1.200m. Classificou‑se em primeiro lugar a equipe do galhardete encarnado, constituída por José Correia Rebelo, Carlos Cruzinha, António Correia Sarmento e João José S. Borges. Timoneiro, João Martins Manteiga.

A 2ª prova de “Yoles de Mar”, para senhoras e no percurso de 800m, foi ganha pela equipe do galhardete encarnado, constituída pelas senhoras D. Maria Lusa C. Barahona, D. Lorena Pacheco de Castro, D. Fernanda da Cunha Coutinho e D. Maria Margarida S. Benevides. Foi timoneiro o Sr. Armando M. Breyner.

A 3ª prova de “Yoles de Mar”, para juniores, num percurso de 1 800m foi ganha pela equipa do galhardete branco, constituída pelos Srs. Hans Rieff, Francisco Teves, Hugo Moreira e Albano do Vale. Foi timoneiro o Sr. Pedro Bicudo.

Na 4ª prova de “Yoles de Mar” entre as equipas do Clube Naval e da Armada, num percurso de 1.800m, atingiu a meta em primeiro lugar, a segunda equipa, que era constituída pelos senhores José Nascimento, Casimiro de Oliveira, Luís Fernandes e Danilo Magalhães. Foi timoneiro o Sr. Abel Pinto Ferreira.

A Taça “Carregadores Açorianos” ficou em poder da equipa vencedora.

Seguiram‑se “Corrida de Baleeiros” e a primeira prova de vela “Snipes” (2 voltas ao triângulo), que foi ganha pelo eng.º Abel Coutinho, que assim conquistou a “Taça 39º Aniversário”.

Efectuaram‑se depois provas de natação entre o Clube Naval e uma equipa da Armada e finalmente “estafeta”.

No final do festival o Governador Civil de Ponta Delgada, capitão Sérgio Vieira, entregou os prémios aos vencedores.

Em 29 de Março de 1940 o Jornal “Diário dos Açores” dá conta de que se iniciam na Secretaria do Clube a 2ª série de palestras para timoneiros de embarcações a remos, pelo que os sócios que o desejassem frequentar deviam comparecer na Secretaria, para lhes ser marcada a data da inspeção médica.

Igualmente o mesmo jornal noticia em 14 de Junho seguinte que «dirigido pelo Sr. Cristiano Cordeiro Martins tinha início as aulas de natação do Clube destinadas a sócios e seus filhos, menores de 12 anos; e que as lições se realizavam todos os dias, exceto aos domingos, das 17 às 18 horas».

Ainda o Jornal “Correio dos Açores” de 7 de Agosto de 1940 noticia a realização do “DIA DA NATAÇÃO”, informando «que o Clube Naval estava a proporcionar tardes de verdadeiro desporto, na genuína força de expressão desse desporto que enrijece os músculos, amolda índoles, define atitudes e tonifica o organismo».

E «embora não tivesse sido devidamente compreendida a excelência dos desportos náuticos, a prestimosa direção do Clube Naval havia empregado todos os seus esforços de modo a incutir na mocidade o gosto pelo seu desenvolvimento».

O festival foi presidido pelo governador civil do distrito, assistindo as mais representativas autoridades locais.

As provas eram constituídas por “corrida de bruços”; “corrida de yoles do mar”; “corrida de snipes”; “natação” e “gincana”.

Como vencedores apontavam‑se Hermano S. Botelho, como campeão do Clube; António de Albuquerque Jácome Correia; Armando Goyanes Machado; Hugo Moreira; Francisco Teves; José de Oliveira Correia Rebelo; Ricardo Calvenie de Barahona e Luís Andrade Coutinho.

«O Dr. Hermano da Silveira Medeiros e Câmara era médico e fazia uma triagem dos remadores, acompanhava os atletas antes, durante e depois dos treinos. Devemos ter sido dos primeiros clubes a ter medicina desportiva. (…) Na altura precisávamos de um aparelho chamado espirómetro, que media a capacidade de ar que o pulmão era capaz de admitir, mas o aparelho era muito caro e o nosso consócio Manuel António de Vasconcelos Júnior, também remador, construiu um.»

Armando Rocha